quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Calma - sobre Kandinsky




Se um pintor resolvesse se tornar, apenas por meio de suas tintas, o mais perfeito samurai, provavelmente se tornaria Kandinsky.

Para dominar o infinito do tempo, respirando no alerta do espaço, para traçar o esplendor do instante em sua exigência de ordem, ardor, delírio, paz, paciência e violência, tal artista teria de ir de um extremo ao outro do infinito, amando a todo inimigo da carne. (“O Nada nadifica.” - Martin Heidegger)

Precisaria ter calma para prender a inumerável criatividade do tempo, amor à paz, humildade para ser escravo da força que possuiria e o possuísse. Teria de ser um Deus que começasse do mínimo ou uma criança fantasma que caminhasse encima da faca da verdade.

Teria de amar, com superstição animal, o rigor. Teria de ver os fatos tão através que voltaria para estar diante deles como diante do maior-primeiro-milagre.

Não, a força não é pura força: a força é a maior fraqueza. Forte é a visão da força. A doação para outro, que está em si, e que se separa e que atesta a força da carne de Deus silenciosamente, humildemente, como um guerreiro que sabe que quanto mais esperar pelo sangue, mais a um só tempo ávido, pleno e pacificador será seu gozo, sua submissão, sua vitória.

Dentro do maior delírio há criação de ordem, há sacrifício. Sonda-se o infinito, faz-se ciência. Dá-se o limite do Desenho, a visão da mais possível verdade, para outro.

O guerreiro é quieto e faz o trabalho de sua vida com paciência, mudo louvor à matéria, mínimos gestos de razão que cortam a carne de Deus.

Um universo é pequeno, mas vivo.

Do esplendor somos amantes, dele queremos bem, e nele somos irmãos da forte libertação.



Curva dominante

                                                             Amantes cavalgantes

Rosa decisivo

                                                                A montanha azul


                                                                    Improviso 7
                                                          

Nenhum comentário: